Assim vens cobrindo o meu vazio
Devagar num silêncio ensurdecedor
Palavras em uma letra já morta
Onde só restará o nada em flor
É assim que quero este jazigo
Esquecido de um tempo de dor
Fechar uma página entreaberta
Cremar estes restos sem sabor
Gritos de falsos lamentos
Preenchem só por momentos
Não tiram a sede nem o frio
São meras saudades em bolor
Desses fracos de alma esperta
Que se guarda somente o odor
Fétido destilar de ocre fastio
Sem mais do que a sua mera cor
Residuos secos em vala aberta
Desse aterro que taparei sem pudor
Zurros de pequenos jumentos
Passam breve sem ressentimentos...
António de Almeida