atrás de cada olho esterilizado
o corpo lúteo rendado
para o velorio das teias
em overdose lunar
os folículos, as púrpuras constelações,
despedem-se do respeitável público
antes púlpito
as trompas são serpentes
enjoadas do éden
loucas de lua
e hóstias cruas
no silvo do espelho pituitário: a partenogênese
da virgem circense
volátil e viril
quem disse que o anjo estrógeno
ainda será o rei paterno?
nesta roda de nascimentos
eunucos
seus olhos de anunciação
são terríveis conta-gotas
uma nuvem de gafanhotos
anticolisão
quantos ovos carbonizados
serão ainda necessários
para que o sol descanse
andrógino e sem coroa
no império dos venenos
luteinizantes?
hormônios em êxtase de ocasos,
digo-vos: o aplauso do cosmos
arrebenta o tímpano
do manto niquelado
e canta:
o manso salvador não nascerá
humano
de meu parto eloquente
ele sibila / cobra / criptonita
adeus
Andréia Carvalho (Curitiba-PR) publicou os livros de poesia A cortesã do infinito transparente (2011), Camafeu Escarlate (2012) e Grimório de Gavita (2014), todos publicados pela Lumme Editor. É editora de arte da Zunái, Revista de Poesia e Debates, e uma das editoras de Mallarmargens.