A Vontade minha tem um certo tipo de relógio que costumava ter uma cadência, uma sucessão de estados de ânimo. Eu podia sentir esse ritmo do porvir das coisas que a minha Vontade, tripulada pela minha [excessivamente criativa!] Imaginação, conseguia engendrar para iluminar os meus passos.
Vez ou outra a minha [ativa!] Imaginação pregava uma peça na minha Vontade e tudo desandava em nada... pois tudo era um sonho falso, e logo, fanado... mas ainda assim, o ritmo do Relogio era constante — eu seguia tendo novas Vontades, mesmo que as de ontem dessem em nada! Para agir, seja para o erro ou para o acerto da pontaria, gasta energia da corda do Relógio da Vontade!
Pois bem — este Relógio da Vontade ficou parado, quebrado em algum dia de 1990... isto aconteceu quando eu descobri que a minha vida tinha sido um sonho de uma sombra — eu havia dormido por cerca de 30 anos! Desde então, eu não tenho mais Vontade, eu apenas cumpro — vivo o que há para viver, pois afinal, falta aquela coragem de me lançar naquele abismo da Serra do Mar que eu sonhei um dia... Carro com o tanque cheio de gasolina e a Quinta Sinfonia de Beethoven no último volume!
Reproduzo as palavras que Schopenhauer citou, atribuindo-as à autobiografia de uma certa Madame Guyon — << “Tudo me é indiferente: nada mais posso querer; constantemente, ignoro se existo ou não”> — em “O mundo como vontade e como representação”, Tomo I, p.453 - Ed. UNESP.
Por fim, deixo claro que a minha Vontade não tem o peso daquela de que trata Schopenhauer... ou tem? Não me importa saber, e não me interessa! Sou rei do penso e escrevo! Leio Schopenhauer sim, mas só p’ro meu gasto!
Eu não quero nada; e que ninguém espere alguma coisa de mim — sou um homem com o [interior] Relógio da Vontade irremediavelmente quebrado — até o fim, e para todos os fins!
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[Desterro, 06 de março de 2018 - 13h36]