A ansiedade começa a consumir-me, ali sentada, espero numa sala qualquer… não reconheço ninguém, são pessoas como eu à espera de serem atendidos nos exames que irão realizar.
Um desesperante silêncio paira no ar, cada um de nós com os nossos pensamentos, os nossos medos, as nossas angústias… compenetrados em nós mesmos, tentado controlar as emoções.
Cansada começo a divagar, meu pensamento voa mais além, procura-te quer-te junto a mim, sorrindo-me, olhando-me, apoiando-me, afastando meus pensamentos pessimistas. Mas não, não estás, não vejo a tua presença, mas tenho-te no pensamento e isso conforta-me, diminui a minha angústia.
De vez em quando soa a voz de alguém a chamar por alguém que chegou a sua vez.
Olho em redor, observo os corpos tensos, impacientes, esperando sentados. Uns calados, com rostos inexpressivos, olhares vagos, pensativos, tristes. Outros folheando rapidamente as páginas das revistas, como se quisessem acelerar o tempo., diminuindo a espera…mas os minutos demoram a passar, sentimo-nos unidos nesta desesperante espera.
O que cada um estaria a pensar? Nos seus problemas, nos seus medos, no seu futuro…
Encosto a cabeça na parede, encerro os olhos e penso nesta angustiante espera, o medo do desconhecido penetra fundo, o coração palpita mais rápido, a respiração torna-se mais profunda, o corpo mais letárgico… é preciso controlar os pensamentos.
Volto a pensar em ti, no que significas para mim, como tudo aconteceu, como nos conhecemos e o meu rosto esboça um terno sorriso, suavizando esta maldita espera que não termina.
Meu pensamento continua a abstrair-se do que se passa à minha volta e pensa no porquê, porque tudo aconteceu connosco? Nada acontece por acaso, não acredito em coincidências, tudo tem uma casualidade, mas na minha cabeça continua a ecoar; porquê tudo tem que ser assim? porquê?
Há perguntas que ficam por responder, que não conseguimos vê-las, mesmo tão perto de nós.
Não interessa, o importante é o que sentimos, esta sensação linda que nos provoca prazer e dor, arrebatando-nos até as nuvens, num sonho delicioso, provocando-nos esta efémera felicidade agridoce.
O meu rosto continua a sorrir, emocionado, o teu rosto permanece no meu pensamento, a tua voz soa como uma alucinação auditiva, o teu sorriso, ah! o teu suave sorriso alenta minha tristeza, minha impaciência, meu desespero.
De repente a voz de alguém soa revoltada com tanta demora, volto à realidade nua e crua.
A espera é enorme, ainda resmungamos com os nossos serviços públicos? Aquele era privado, pagamos bem caro por aqueles exames, mas…
Se eu estivesse num serviço público, talvez já tivesse sido atendida e não pagava o exame.
É isso que a voz revoltada diz “… era melhor no hospital, demorava mas não pagávamos”.
E tem razão essa voz que soou de entre tantas caladas.
Temos a mania de criticar as nossas instituições públicas, mesmo nos próprios locais, por vezes com palavras agressivas, ofensivas para quem trabalha o seu dia a dia, tentando dar o seu melhor, independentemente da má organização institucional.
Mas num local privado temos a tendência de sujeitarmo-nos calados à espera do atendimento, mesmo que percamos a cabeça… permanecemos calados, o ser humano é mesmo incoerente…
Farta de esperar decido escrever, meu lápis move-se ao sabor do pensamento, das palavras… de vez em quando observo que sou curiosamente observada pelas pessoas, saindo da sua alienação. No que estariam a pensar, vendo-me a escrever incessantemente? Talvez que sou maluca…mas que importa, continuo a colocar no papel o que sinto, o que penso, o que observo…
Lentamente, muito lentamente as pessoas são atendidas
Chega à minha vez… suspiro e penso “até que enfim”.
Sai do exame mais calma, tudo está bem, nada para preocupações, suspiro de alívio, mas ainda tenho que esperar pelo relatório do exame…pacientemente espero, mais sossegada porque tudo está bem, sinto-me uma privilegiada. Quantas de nós saíram daquele exame, confusas, angustiadas, amargas, em pânico porque nada estava bem? Quantas sentiram-se perdidas… num de repente as suas vidas desmoronaram-se, carentes de sonhos, revoltadas, murmurando interiormente, porquê meu Deus? Ajuda-me…
Observo cada rosto, vislumbrando sinais de medo do futuro…
Volto a pensar em ti e no meu cérebro ecoa uma frase:
“Ainda bem que te amo e não interessa os porquês…”.
Escrito a 25/03/08