Em uma praça qualquer,
De uma cidade qualquer
Eu escrevo uma carta
De ninguém, para quem quiser
Para um professor, ou um padeiro
Para um escritor, ou para um pedreiro
Não há limite para o entendimento
A escrevo com poucas palavras,
Mas com fragmentos de bons momentos.
Quem não entenderá,
Como é acordar e não querer levantar?
Quem não se identificará,
Com o sentimento harmonioso que a paixão dá?
Não há quem possa precisar de um dicionário
Não escrevo para impressionar, escrevo um diário
Para o pai, para a mãe
Para o mendigo que, adormecido, repousa na rua de traz.
Nestas linhas me deixo levar,
Para um caminho que, outrora, não existia
Mas que hoje estou a trilhar
Nele existem pedras, pedras antigas,
Que me contam lendas e fábulas quase perdidas
Nesta carta eu escrevo sobre a morte, sobre a vida
Da saudade das brincadeiras, da minha infância
Onde tudo era real, não uma simples, e bela mentira
Escrevo para me distrair,
Escrevo esperando a imaginação me consumir.
“Já não estou ágil como antes
Minha caminhada se tornou deselegante”
Foram essas as palavras que escutei do meu avô
As guardei, pois ele já se foi
Em lágrimas me derramei, mas a vida segue
O riacho corre, a semente cresce
Em forma de carta, eu revivo sábias palavras,
De um lavrador que não as escrevia,
Mas, que muito as conhecia.
Vejo uma névoa escura sobre o céu
Mas não é aviso de chuva
E sim das indústrias,
Que roubaram aquela que antes era uma cidade pura
Mas ainda a guardo com ternura
Ternura pelos bosques, pelos córregos
Ternura pelo feijão que minha mãe sempre colhe
Em carta eu descrevo a vida que em meus olhos passa
Os pequenos prazeres, as dificuldades, os lazeres.
Em uma praça, que estou sentado,
Me imagino flutuando, de estado a estado
Escrevo uma carta, em um dia ensolarado
Para quem gosta de ler, para quem não sabe escrever
Para o meu pai, para a minha tia
Para o senhor que atravessa a esquina
Logo irei embora, para a escola
Deixarei a carta aqui, para quem gosta de história.