Hoje inclino-me ao fulgor dos dias luminosos
caiados de sol, cheios de noite e solidão,
inclino-me às dores, aos olhares saudosos
da minha triste juventude etérea sem razão!
Hoje! Mas só Hoje! ...
Hoje inclino-me às crianças que passeiam pela rua
cheias de sonhos e vontades, como eu já tive,
e penso na amargura que vão sentir, tão crua,
ao verem, crescendo, que sem a morte ninguém vive!
Hoje! Mas só Hoje! ...
Hoje inclino-me às guerras porque delas se faz paz,
uma paz armada, bem sei, porém uma semente,
inclino-me à fome e à tristeza de que a traz,
à dor e ao silêncio de quem a vê, de quem a sente!
Hoje! Mas só Hoje! ...
Hoje e só hoje me inclino ao coração dos homens,
por vezes, tão negros, cheios de maldade e podridão,
cheios de angustia e amargura, cheios de nuvens
que lhes encobrem a Voz de Deus e lhes tiram a razão!
Hoje! Mas só Hoje! ...
Ricardo Maria Louro