Observo - no lago -, um sapo
(Mergulhado em fados e fadados condões!),
Que vai - enfunando o papo! -,
Coaxando a plenos pulmões...
O lago... Todo os nossos mundos...
Tremula a água e o meu olhar ensimesmado
Vê-se no sapo - que em cantos profundos! -,
Coaxa à dor em que me percebe enclausurado...
Se bem o sapo me encanta com fados,
Que pasmo! É grande e tão surreal a emoção
Ouvir um sapo coaxando, (qual bardo!),
Uma singela e amargurada canção...
De uma guitarra a mágica serena
Seria tocá-la sem esse pensamento condoído,
E de Fernando Pessoa (o poema!),
Recitar além de um coaxar tão sofrido:
“* Contemplo o lago mudo
Que a brisa estremece
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece...
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo...
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo...
Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida...
Por que fiz eu dos sonhos
Minha única vida?”
Na frialdade do tempo a vida persiste
E tudo, tudo nessa hora parece que esmorece...
E o sapo (do meu viver tão triste...),
Contempla o lago e adormece...
(Onivan)
* Contemplo o Lago Mudo – Fernando Pessoa