Noite sombrosa e fria. Em mim há lagos de fogo a me queimarem o pensamento que me entorpece.
Hoje, todos os fantasmas, de todos os tempos, reuniram-se e tramam para me levarem a seus reinos sombrios, enquanto a suave brisa compõe a última sinfonia.
Fora de mim, nos semblantes que omitem suas dores em risos ébrios, e nos corpos que apresentam desejos despudorados em curvas ocultas, contemplo flores se apodrecem inadvertidamente pelo caminho, sacrilejadas pelo tempo que lhes viola futilidades ás avessas.
E os cheiros almiscarados, a exalarem das flores cadentes, trazem a fragrância à medida certa, para manter em mim a frágil chama – quase apagada pelo vazio que se me assenta severamente – e mascarar minha iminente partida, contra a qual luto em suspiro final.
Próximo à manhã, tudo parece ainda mais estranho e surreal. Sinto que a vida de mim também se vai esvaindo lentamente.
Uma suave brisa me acaricia, leve e mornamente, o corpo frágil, como que a afagar meus derradeiros murmúrios supliciados.
Então, a pequena chama residual se me contorce em mínimos feixes de luz, prenunciando o fim que se aproxima o momento seria trágico, não fosse meu anseio pelo sono derradeiro que viesse me aliviar minhas angústias mais severas, mergulhando-me no apagamento eterno e me libertando da prisão em que me encontro.
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)