Poemas : 

Bicudos na lua

 
Em um melancólico
ônibus vazio,
vejo o mundo sendo
rebobinado através
da pequena janela
ao meu lado,
sinto o tremor e o balanço
do ônibus
e deixo que chacoalhe
meu esqueleto,
consumido por uma megera
e sincera paixão
deixo com que ela mecha
com todos os meus orgãos
se alimentando como sangue sugas.
Viciante como um trago
em um cigarro
que me aproxima cada vez
mais da morte
e da vida, me levando
hora, em um céu
derramado em um lindo
sorriso,
hora, em um inferno
derramado em solidão
e frustração
e sangue sugas
agarrados em meu carbonizado
coração,
consumindo, lentamente
a cada dia, cada um
dos meus órgãos.

Me achei forte o bastante
para escapar
mas não sei como realizar
tal façanha,
talvez eu nem queira
realmente escapar,
meu pobre subconsciente
pode estar ancorado
ou estou, no fundo, gostando
ou haja uma pequena brasa
que ainda acredita,
uma pequena convicção
que insiste em me dizer
que eu tenho que ser paciente.

Não a outra solução
a não ser esperar
o passar das primaveras,
escrevendo poemas
e apreciando, de uma forma
pura, de um tolo totalmente
a merce desse sentimento
não correspondido,
cada sorriso
que me for
apresentado
e quem sabe, escupi-o
a bicudas na lua
para que todos possam ver
o que vejo
mas, infelizmente,
não o que sinto.

 
Autor
GabrielsChiarelli
 
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