Como é que alguém pode sentir a minha falta?
Quando saturo - me todos os dias com a minha presença
Porque essa parece ter sido a conclusão de Deus
Quando pensou sobre qual seria a minha sentença
Mas não precisavas ter pensado tanto
Nem me devias ter criado
Há dias que te odeio até mais
Do que o mundo a que eu fui entregado
Pergunto - me neste momento
Se és capaz de me ver ou ouvir
Será que já também tinhas planeado este tempo
Em que iria te odiar, virar as costas e partir.
Será que estou voltando para casa?
É esse o tempo que chegou
Ou será que existe mais alguma sentença
Dessa entidade que me criou..
Mas a verdade é que me sinto sozinho
Porque a verdade é que me sinto deslocado
Sinto o tempo todo que nunca deveria estar aqui
Que alguma coisa lá em cima deve ter dado errado
Tu abandonaste - me sem compaixão
Naquele vazio de trevas pela eternidade
Enquanto a minha carne carbonizada ardia em combustão
Eu recordo - me de gritar por piedade
Disses - te que eu não merecia
E sim eu senti que era verdade
Mas a tua mãe tocando no teu ombro
Pediu - te que me desses outra oportunidade
Que amor esse de estar no colo dela
Essa sensação que nem outra vida me a faria esquecer
Tentaste - me apagar estas memórias
Para que eu aprendesse a viver
Mas nunca me vou desfazer do facto
De que tentaste apagar tudo o que fazia de mim eu
E hoje por estar assim fracturado
Sinto - me um estranho no corpo que supostamente deveria ser meu.
Mas não importa deves ter as tuas razões
Mas se querias apagar algo que apagasses tudo
Porque viver assim com estas memórias aos apagões
Faz - me sentir como se eu vivesse apenas uma vida de luto.
José Vieira