ILUSÕES DA ALMA
Elen de Moraes Kochman
Acordo com a estranha sensação de que estás aqui, preenchendo nosso espaço com o teu costumeiro silêncio e o meio sorriso que deixavas acontecer, quando te abraçávamos dizendo as mesmas palavras de todos os anos, sem nenhuma criatividade, mas carregadas de carinho e da eloquência dos que amam.
Ilusões da alma... Impressão de te ver em cada canto desta casa, ora sentado olhando o vazio, ora caminhando pelas salas, passando as mãos pelos móveis, distraidamente, como se ao limpar algum resquício de poeira ali existente, pudesses limpar os pensamentos ruins, exorcizar os problemas... e sempre naquele teu mutismo, com o qual já me acostumara, mas que algumas vezes ainda me pegava de mal jeito, fazendo-me sentir sozinha,
mesmo acompanhada.
Tantos anos... Fecho os olhos, respiro fundo e o coração se acelera quando as lembranças mais fortes me vêm com a imagem do nosso filho te abraçando, encostando a cabeça no teu peito e dizendo: “Parabéns, feliz aniversário, pai! Vida longa para estarmos por muitos e muitos e muitos anos juntos”.
Desejo que não se cumpriu...
Hoje, saudade e eternidade são rimas para a tua ausência.
(Para Renatão, em memória, pelo seu aniversário)