"O toco de Wazaká é degrau para a divindade"
[...]
Mais uma vez,
mãos e punhos firmes
movimentam-se para
lembrar o Monte
Gigante mítico,
banhado de cristais,
já descrito em narrativas
de tempos ancestrais
Escudeiro das Guianas,
no labirinto das serras,
com 2.734 passos a cima
até a região apoteótica
Lá, somos célula no rochedo,
revela-se a nossa pequenez;
o frio sopro do divino
carregando o ar da positividade
Ao mesmo tempo,
estar sobre as nuvens
dá a sensação angelical
de poder beijar estrelas
e admirar o horizonte
que caminha no infinito
Árvore da Vida,
ama de leite a Akúli,
zelada por Jigué,
não poupada por Makunaima
De sua queda,
brotaram diversos grãos
que saciam a fome
dos nativos do Norte
O choro do tronco
umedeceu os lábios do gigante;
até hoje escorre em cachoeiras,
lavando o solo contra a maldição
A madeira virou rocha,
o paredão revelado,
avistado ao longe
quando se adentra
a Gran Sabana
Árvore do Mundo,
foste sombra que cobria o céu,
hoje és solo que revela os céus
És o porto para o mundo da magia,
para o mundo do mistério;
és o hospital das almas,
cujos leitos são acolchoados
com fetos arbóreos
Vigiado por guardiões dos portais
e por gatos-maracajás,
por trovões e relâmpagos,
trombetas que anunciaram a emersão
Tepui da tríplice fronteira
imponente até o céu
e sensível ao chorar
pela violação do passado
Renato Braga
O Monte em tela localiza-se na tríplice fronteira entre Brasil, Guiana Inglesa e Venezuela. O nome "Roraima" é o mesmo do Estado brasileiro em que nasci.