Leram-lhe na sina
inveja,
na palma da mão canhota.
Ignota,
a cigana na ladainha,
bradava (no único alfabeto que sabia ler),
que a linha
da vida fazia estranha curva...
Com a vista turva
a falsa vate
murmurava amores errantes e escassos,
prole de saúde cheia
como a lua.
De bolsos vazios,
menos da mão dextra,
ouviu a nómoda rogar uma praga
por serviços prestados
sem retorno.
Volvidos os anos
e devolvidos os sonhos mornos
lembra
uma tarde de sol na praia,
uma dívida
por
pagar.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.