Medo.
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Pavor de algo que nem descrever é possível
Um inexplicado que sinto aos poucos ingerindo minhas vísceras
Se apoderando de minha pele, do meu tato, de todos os sentidos
Até tomar conta de cada uma das sinapses
E quando pareço me distrair ao menos um pouco
Olho meu reflexo e vejo uma figura estranha
Tiro os óculos, estão sujos será? Não, não posso culpar nem minha miopia
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A imagem me comprimenta amistosamente
Não é uma figura monstruosa, tenta até estampar um sorriso no rosto.
Mas mesmo assim me amedronta
Carrega em si as cicatrizes de antigos machucados, que a deformam do esperado
Além de feridas ainda abertas, que só de olhar sou capaz de sentir a dor em mim
Há em seu retrato lembranças de um passado que finjo não recordar
E de um presente que se encaminha no mesmo trajeto
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Dou uma breve saudação de volta
Não quero que pense que estou a tratando com descaso
Não irei fazer com que os fantasmas desgostem de mim logo de cara
Estampo um sorriso forçado e me despeço
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A luz apaga e o que eu mais temo não é o escuro
Teus pensamentos ainda ecoam em minha mente
Suas dores escorrem sobre minha pele, me impedindo de respirar
Na cama não há espaço o suficiente para abrigar nós dois
E a cada pesadelo tenho somente mais dúvidas do que sonho
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Temo que meu futuro repita o passado?
Acordo e ainda vivo a mesma realidade
Carregando o peso dobrado em cada passo que dou