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DESCARTÁVEIS

 
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De que valem as palavras do poeta?
No fim, são só palavras.
Verbos sonhados em madrugadas miseráveis
De sono ausente e sonhos de vigília
Inútil surrealidade
Inúteis palavras
Mas ainda assim escreve
Escreve o grito que esbravejou e ninguém ouviu
Escreve o coração que sangrou e ninguém estancou
Escreve a alma que padece pela prece que ninguém rezou
Escreve, o poeta escreve...
...Escreve o beijo negado
Escreve o abraço frouxo
Escreve o ressentimento que lhe guardaram
Escreve a anistia que não lhe deram
Escreve a segunda chance que não teve
Escreve o bicho que come a carne em dor lacerante
Escreve a culpa que sente o espírito por perdão
Escreve o Não
O grande e maldito Não para tudo
O Não para o riso
O Não para o amor
O Não para a delicadeza
O Não para a ternura que lhe fora prometida e que não veio
O Não para a gentileza que não veio dos céus
Deus!
O poeta escreve
E de que valem as palavras do poeta?
Não valem nada!
Nunca valerão nada!
Mil poemas não poderão mudar nada!
Nem mesmo uma morte tranquila e inodora
Nem mesmo para isso servem as palavras do poeta.

Elisa Salles
(18/12/2017)

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florbelapoesias
 
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Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 08/11/2019 22:14  Atualizado: 08/11/2019 22:14
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Mensagens: 2241
 Re: DESCARTÁVEIS
Uma visão um tanto pessimista, mas sem fugir à triste realidade. Onde o poema se ergue à espada? Quando estanca o sangue que esvai no peito? Porque escrevemos então?
Acho que somos os últimos baluartes contra a mesmice e a ditadura do óbvio. Parabéns pela propriedade do escrito.