Chego à rodoviária. Faltam quinze minutos para a partida de meu ônibus. Às vezes, quinze minutos podem representar muito tempo para quem está ansioso para viajar.
Não dá para fazer um lanche com tranquilidade, temos que ficar conferindo a hora no relógio. Normalmente o entretenimento é observar as pessoas que partem e as que chegam. É um instante de abstração. E minha abstração é quebrada quando um senhor se aproxima e pergunta onde fica a plataforma do ônibus que sai para Roseira.
- Plataforma vinte e cinco, senhor, é a próxima.
E subitamente, este senhor começou a dizer que estava com muitas saudades de sua esposa, falecida há um ano.
Olhei com mais atenção em seu rosto e pensei: deve ter tomado umas "canjiribas" a mais. Ele tinha os olhos vermelhos, de quem havia chorado, mas não distingui evidências de embriaguez.
E continuou falando que nasceu em Minas Gerais, na cidade de Cristina. Veio criança para o estado de São Paulo. Trabalhou a vida inteira no campo, cuidando do café, tirando o leite das vacas. Ficava muito tempo no mato, feito um bicho, vinha pouco à cidade. O filho é motorista de caminhão, o que considera uma profissão arriscada, fazendo frete na Dutra.
E queixou-se que sentia muita falta da mulher. Viveram muito bem juntos, trinta e cinco anos, um cuidando do outro. E fazia um ano, naquele dia que ela o deixou sozinho neste mundo.
E depois se desculpou pelo desabafo e com a passagem na mão se encaminhou para o ônibus que havia estacionado.
Fiquei pensando na amizade entre cônjuges ou amantes. Toda a amizade, é muito importante, é claro. Mas, fiquei pensando nessa coisa que costumamos chamar de companheirismo que acontece entre duas pessoas. Tristeza maior dos que perdem esta relação é a dos que nunca a experimentaram.
E também me questionei se não tenho cara de padre ou de psicólogo. Não é a primeira vez que uma pessoa desconhecida se aproxima e revela as suas particularidades.
Em menos de quinze minutos, no final de uma tarde de sábado, um cidadão me conta a sua vida e as suas amarguras. Um cidadão que provavelmente jamais verei. Realmente, quinze minutos pode ser muito tempo.
Luiz Felipe Rezende