A Primeira Consoada
Nessa noite escura e fria
Só uma estrela alumia
No meio da escuridão.
Jesus todo se arrepia,
Na pobreza dos seu leito,
Com a fralda feita a eito
Toda em folha de serpão.
Se Maria não tirita,
No seu manto azul de chita,
É porque tem a seu lado,
Agarrado ao seu cajado,
O bondoso S. José,
Que toda a noite medita
Nesse mistério da Fé.
Logo atrás da manjedoura,
Na sua pelagem loura,
Fica a vaca paciente
A descansar da lavoura.
Faz-lhe o burro companhia
E os dois até ser dia
Bafejam o ambiente.
Aldeões trazem tomilho,
Tachos com papas de milho,
Pratos de arroz de carqueja
Para ofertar a Deus Filho;
E à porta do estábulo
Cada qual com o seu pábulo
Receber a luz almeja.
Descem os pastores das quelhas
A tanger suas ovelhas
Lá das lonjuras da serra,
O mel trazem das abelhas,
Dão aves do galinheiro
E os enchidos do fumeiro,
--Tantas riquezas da terra.
Nessa noite de oferendas,
Testemunham essas prendas
Dadas pela madrugada,
Que o povo vindo das tendas,
Com Jesus em comunhão,
Concebe a celebração
Da primeira consoada.
Juvenal Nunes