Desdenhei das palavras por um tempo. Desdenhei...
Apenas alguns dias sem ouvir nem mesmo um verbo
Nem mesmo um substantivo ridículo e medroso
Nem até um adjetivo ousado ou raivoso
Deixei os vocábulos esquecidos por lá
Encostados num canto da parede úmida
Amotinados e tristes por minha indiferença
Sim,
por um tempo cansei-me não da poesia,
mas de mim...
Eu e meus poemas cheios desta melancolia
Esta nostalgia mórbida que acalenta as letras
Canções de gente amargurada, que embala
sonhos tão mortos que nem valem o sono forçado.
Poemas com pontos finais mas incompletos
Defuntos de mistérios ou singularidades
Mecanicamente escritos num jeito só...
Poetisa tediosa!
Mas o que fazer se as sentenças gritam desesperadamente?
E o que fazer se o que me resta ainda são tais locuções?
Apanho as palavras no canto, embalo-as junto ao peito, beijo-lhes o rosto,e escrevo porque nada sei ser, senão esta criatura que escreve versos,ainda que monótonos e desconexos.
Elisa Salles
(11/12/2017)
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