O caminho é estreito
eu sei
e o que incomoda
são as nossas pontas
que se tocam e não se encaixam
Sozinhos somos incompletos
e juntos parecemos sobrar
É assim o ser humano
que não abre mão de si mesmo
Sou um passante
e reverencio
as almas que me suportam
Ainda não vendi ouro legítimo
e nem aprendi a arte dos homens bons
Além de estreito
sim, é um longo caminho
E o poeta anteviu a tempestade
Esse dom de perceber a direção do vento
e ouvir a pulsação do tempo
se aprimora na estrada
As memórias se acomodam
como finas camadas de pedras
de eras geológicas
Cada nova primavera
o coração apaga e acende
como um vagalume
No verão brindamos
estrelas no jardim
Mas quando o outono vem
e as folhas da jurema caem
também parecemos secar
Mas mesmo assim
seguimos o caminho
É estreito, sim
mas é o caminho.
Luiz Felipe Rezende
Publicado originalmente como "NARROW WAY" poema inspirado em música de Bob Dylan