Ó natal, natal!
Lá vens outa vez
Com teus custos.
A quem tem não assustas,
A quem nada tem
Não custas,
Vens e passas rente
A sua barriguinha de fome,
E só voltas pra o ano
Com mesmos custos
Com mesmos sustos
Com mesma passagem
No reino dos esfomeados,
Que te vêm ir e vir
No dorso da rena
Que só traz pressentes
Aos já presenteados na vida.
Pra quem nada tem
Só ficam lembranças
De teres passado por aqui
Sem deixares rasto nem restos
Da tua fartança,
À porta escancarada
De quem nada tem
Pra enganar o vazio
Na sua barriguinha de fome.
Ó natal, natal!
Lá vens outra vez
Com o teu olhar
Mais pra o lado de lá
Do que pra o lado de cá,
Onde mora a fome
Adelino Gomes-nhaca