Foi depois que
sonhei com um pássaro sendo morto
por dois anjos
negros
– que desceram
do céu invadindo seu reino
com suas adagas de fogo
às mãos;
um a segurar-lhe
e a mutilar-lhe as asas,
o outro a castrar-lhe
as genitálias
para, em seguida,
cravarem-lhe, ambos,
seus afiados e frios punhais arrancando-lhe
as vísceras e os caldos –;
que, ao acordar,
tive claro pressentimento
de que algo iria acontecer aos corações
que caminhavam juntos
a lutarem pelo amor.
À tarde de alguns dias depois,
quando melodiava uns versos quaisquer,
despercebido do ser abissal
que havia se atocaiado
em seu lar,
o pássaro começou
a ser atingido com afiadas lâminas,
que eram disparadas em forma
de tênebras e inquisitórias
palavras;
enquanto isso,
sua amada a tudo assistia
em silente angústia, armazenando
também rancores que seriam aspergidos
mais tarde;
e tal como no sonho,
a morte chegou com verbos impiedosos
a sentenciarem o severo
julgamento.
O pássaro morreu
sem as asas, a amada morreu
com grande dor na alma, e o abissal ser
foi latir sorrindo nas trevas
fecundadas!
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)