... outrora,
com a flor do inverno, choveu
tanto, tanto, tanto que me transformei
na própria escura e fatal
ohuva,
que a tudo
alagou e eliminou com a carestia
de oxigênio para que pudessem respirar
os dois amantes tolos;
e agora o deserto
me pede de regresso, como que
a exigir que eu me volte a suas dunas
secas,
onde predomina
a solidão, a ausência de sonhos,
de imagens e de palavras, bem como
a má fé que dissimuladamente carregam
em si
alguns anjos
que desejam visitá-lo, escondidos da lua
e das estrelas, para nele (e com ele)
fazerem amor sob sóis
e sombras a pinos.
Não, não,
mas o deserto não quer sonhos,
nem ilusões, nem palavras, nem amores
e sexos com anjos sapiens,
o deserto está sedento
e faminto e grita por meu regresso,
e me quer, e me seduz até que eu não
mais resista e passe a ser-me
o próprio deserto!
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)