Poemas -> Tristeza : 

Morte indiferente

 
Um homem morria pelo chão
adorado por uns
apedrejado por muitos,
noutros indiferente.

À cabeça as filhas fingiam
choros imenso, fogosos
enquanto a viúva comia
rostos sucessores.

As amantes pouco diziam
e os amigos faziam o festim.
Os traídos riam, e quanto riam
… ao mesmo tempo
numa cama de papelão húmido e frio
junto às dobras de uma porta nua,
uma criança nascia
um homem vivia
um menino amanhecia
tão pobre como o homem que
a um polegar de distância
já pouco gemia…
 
Autor
José António Antunes
 
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