Apregoa-se a liberdade e o direito a ela como sendo inerente ao homem, e como se somente ao homem tal direito pertencesse. Aprisiona-se parte do Cosmo e da Natureza num molde negro.
O rebanho que pasta engorda confinado, os pássaros cantam engaiolados, os gatos se perdem nos carinhos dos colos, os cães latem e se tornam o que chamam de melhor amigo. Não obstante, todos se movem mediante ordens, muitas vezes, daqueles que apregoam a liberdade.
E o cosmo se pinta em moldura humana, sendo definido em regras e cores estranhas. Substâncias são formadas, o átomo instável é preparado para a explosão macabra, e até a quântica é subjetivada pelo pensamento.
Mesmo nas relações interpessoais, não há primavera florida. A liberdade, essa abstração, na o passa de um desejo inconsciente e vergonhoso. Se o nascimento ocorre livre, a condenação é imediata e imposta pelas regras de convivência entre a família e, com o tempo, entre a sociedade.
O batismo em crenças e em medos logo é imposto e o “não pode” é uma expressão das mais usadas na modulação do ser, ainda engatinhando: “Não pode subir aí”, “Não pode fazer isso”, “Não pode falar assim”, “Isto não pode”, “Não! Não pode!”. Um escolhido ousar não pode. Um olhar diferente não pode.
E a liberdade continua a ser atacada em ordens diretas: “Está na hora de comer”, “Está na hora de se deitar”, “Precisa cumprir a jornada escolar”, “Obedeça e respeite os mais velhos”. O ensinamento e a educação são confundidos com ordenação e com o entorpecimento da visão ampla.
Como ser ou não ser, como ir ou vir quando se quer e para onde se quer, como sentir o que se deseja, como dizer o que se pensa, como voar como pássaros, senão hipocritamente, se a própria concepção de liberdade ocorre na mente imatura, enjaulando as mentes? O ser mais livre, ainda preso está a correntes que muitas vezes não percebe. Não resta no homem mais indício da alma livre. Isso pertence somente ao reino irrazoável dos animais ou dos humanos enlouquecidos e dissocializados.
O longo e obediente sofrimento se faz pelos elos das correntes implantadas pelos homens em si próprios e em suas descendências: costumes, crenças, desejos, idolatrias, dogmatismos e pragmatismos vãos.
O próprio amor, em suas diferentes nuances, torna-se uma prisão. Por Deus se dobram joelhos em obediência cega. Não se deve olhar para as sombras. De um homem e uma mulher que se amam, o ciúme cega aprisionando o singelo, e Eros é atacado como se fosse algo demoníaco, até com a pessoa amada. O amor fraterno, o mais puro e singelo, se arranha com o fraquejo humano pelo exercício de poder ou pela prática da raiva em alguns momentos, em debates e disputas vãs.
Mas há quem acredite na liberdade plena, como se possível fosse. Mais creem nela os dominadores que os dominados; os pregadores, que o rebanho por eles cuidados; os pais, que os filhos; os amigos mais exacerbados, que os de coração mais calmo; os amantes cruéis, que os que tentam amar incondicionalmente. E os deuses (carrascos a tolher a liberdade), que os servos.
Tragam-me algum perfume para alimentar minha mente. Quero me deitar às sombras e descansar da luz violadora. Quero amar sem medida em cores indefinidas. Deixem que eu contemple o Infinito. Permitam que eu me dispa de minha humanidade aprisionante. Quero ser desumanizado.
Não! Não posso! Estou vestido de calça jeans e com uma camisa de malha. E o simples ato de escrever agora me torna refém. Também como deste pão e bebo deste vinho!
A liberdade é uma hipocrisia. O cárcere em si mesmo, embora não se possa tactar, é sentido fortemente por quem o está, conscientemente, suportando!
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)