As pessoas em geral me cobram um nome. Explico-lhes que nomes não tem importância, mas essa é uma história antiga. Um dos seus mais inspirados artistas já dissera que uma rosa ainda exalaria o mesmo perfume e teria as mesmas pétalas, se não se chamasse rosa. De fato, flores tem nomes diferentes, assim como diferentes são os idiomas que tentam nomeá-las, e elas ainda permanecem "flores". No entanto, vocês dão um valor exagerado às palavras que denominam as coisas, e não é de se admirar, pois tudo o que se manifesta em sua realidade tem um nome, não saberiam lidar com elas sem um nome. "Hei, sente-se ali! - Onde, na mesa ou na cadeira?". Isso ocorre porque percebem a existência das coisas separadas de vocês, e não como parte integrante de si mesmos, produtos de sua consciência. Pois se assim fosse, todas as intenções seriam onipresentes.
No entanto, podem pegar uma cadeira e uma mesa e destruírem. Tudo o que você percebe como apartado de você o legitima a destruir, já que em tese, não destroem a si mesmos. Foi assim que fizeram com a natureza. Antes, a humanidade estava integrada àquilo que hoje chamam de reino natural, o homem não se via como algo separado do mundo. Então, ele precisou separar o mundo de si mesmo para conquistá-lo e depois, destruí-lo. Só mais tarde percebeu, que fazendo isso com o mundo, fazia a si próprio.
Em nome de um nome, vocês tem criado e destruído laços. Deixaram de se considerarem irmão, porque para vocês, as pessoas são seus nomes, não as suas origens. E quando falo origens, não falo do momento da natalidade, mas de origens profundas, físicas e psíquicas. Você confia plenamente quando alguém coloca o nome em um papel e o entrega em garantia. Mas muitos já se decepcionaram com isso, porque aquilo é apenas papel e tinta, nada de fato diz sobre quem o assina.
Por causa do nome e do sangue, a sua espécie tem escravizado e relegado à própria sorte seres humanos que estão além de conceitos cristalizados da sociedade. O sangue se esvai e o nome se perde nas noites dos tempos, e nem mesmo uma lápide de granito pode segurar tanto quanto um ego desejaria.
Por isso viajo sem nome. Quando aquilo que você propaga não tem nome e nem "ismos", não pode ser tocado e nem destruído. Não pode ser adulterado e nem arquivado. Muda sim , a forma, mas não o fundo, como o sol muda nas estações de acordo com a região do mundo que ilumina, mas se olhar bem através das nuvens, ainda é o mesmo sol.
Preciso vir sem personalidade característica, pois só assim, ao me ler, sentirá as palavras como uma extensão sua, como uma voz vindo de dentro, e não como alguém que lhe fala de fora. As pessoas sempre me dão nomes ao longo do tempo, mas a voz permanece vindo de dentro de ti, como parte de sua consciência universal e cultural.
Jeff London é um pseudônimo, ou nome falso, que fala por si mesmo. Ele não define o escritor, mesmo o escritor tentando definir-se a partir do pseudônimo. Paradoxo, não? Como algo que já nasceu falso pode definir alguma coisa. Quem escreve por mim já entendeu que sua personalidade não tem fim num nome. Ele já fora muitos. Marinheiro, escritor, peregrino, rico, pobre, nobre e rude. Já teve mortes gloriosas e tolas. Já andou por estradas nunca dantes conhecidas e por mares de outros mundos. Já navegou nas asas do vento em paisagens indescritíveis e já teve por amigos seres que história alguma pode contar. Ele entendeu que nome algum pode representar isso. Nomes definem, e dar fim a alguma coisa é querer controlá-la.
Como se sentiriam os pingos de chuva que desceram do céu para regrar o seu mundo, se descobrissem que no final dera o mesmo nome a todos eles, oceano?
Então você me busca, e tenta dar-me um nome. Mas, você já se achou? Como entender algo, se não entendeu a si mesmo? Como entender equações se não aprendeu a somar?
Então, se queres me dar um nome, descubra o seu primeiro. E quando perceber que você não pode ter um, entenderá que eu também não posso. Quando parar de dar nome as coisas, elas se fundiram a você, e vocês a elas. E tudo então se tornará mais claro e infinito.
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