Não há legendas de fundo neste meu sonho
Não posso ler a poesia que nada naquele mar além das palavras
Sinto-me sem razão de ser poeta (uma espécie de inaptidão)
De não conseguir cavar bem fundo na raiz da poesia
De não ferir nas farpas da poesia o coração
De não ser poeta ao menos por um simples dia
Perecem longínquas as palavras que não consigo ainda escrever
Que não consigo sequer ainda perceber
São palavras que picam e arrefecem nas minhas mãos
Como um ouriço apertado para morrer
E por isso são palavras difíceis de dizer e de escrever
De sair das minhas mãos e da minha ideia
De escorrer nas minhas folhas brancas
Como pequenos grãos de areia
São antes palavras em brasa escaldantes
Impossíveis de usar ainda de forma correcta
Para que possam ser lidas e sentidas
Nas legendas em verso do sonho de ser um dia: poeta