Não é a primeira vez que alguém
me conta alguma de suas ideias
sobre poemas,
no final sempre me perguntam:
“Por que não escreve sobre isso?”
Dessa vez era uma ideia relacionada
a um necrotério.
Afundei meus ouvidos na água
deixei meu corpo boiar livremente;
A água em meus ouvidos
era como algodões
que me proporcionavam
a paz do silêncio
que por sinal
era aconchegante;
A água ao redor do meu corpo
era como um saco
e esse saco estava
com seu zíper aberto
revelando somente meu rosto,
expondo-o ao sol;
O sol era como uma lâmpada amarela
que estava bem próxima do meu rosto
transmitindo um calor agradável;
A junção dos três
me proporcionava
um estado de paz,
eu não ouvia meus pensamentos,
um verdadeiro estado de descanso
um descanso que não foi eterno;
O medo apareceu momentos depois,
um pavor diferente
um pavor que nunca me fora apresentado
até aquele momento;
O medo chegou me acordando do descanso,
alternando entre o céu e o inferno
entre o descanso e a incapacidade
em relação a todos fatores
que não somos capazes de prever;
O medo chegou mostrando
nossa inferioridade
em relação ao tamanho desse
necrotério em que vivemos,
mostrando também
o descanso que essa inferioridade
conquistara um dia.