[Há um som que é o teu nome.
As palavras que o compõem são como animais sonâmbulos
Que percorrem corredores imensos de florestas lamacentas
E que deambulam pela noite como felinos famintos.
Este ruído é como o abandono da primeira infância,
Distância disforme que se cria entre o som das pingas de água a bater no chão
E o momento em que esse mesmo som entra pelos nossos ouvidos.
O teu rosto é, então, este prolongamento dançante da chuva,
Que perpetua desenhos sobre as vidraças, em jeito de poesia atemporal,
Como se fossemos harmoniosos e viçosos malmequeres de folhas cheias.
Há um som que edifica o teu nome.
Eu sou o poeta e tu és este rosto inteiro e estas palavras todas,
Histórias que se eternizam sob a forma de magistral
Prolongamento de algum lugar comum que imortalizamos.
O vento assobia entre os ramos húmidos das macieiras
Enquanto o teu rosto se ergue sobre esta mesma janela,
Onde o teu nome adquire a paz de um rosto que ocuparei.
As gotas da chuva crescem na eternidade e é como se as palavras fossem seres perfeitos
Que atravessam perpetuamente os nossos corpos,
Num lugar infinito onde as nossas partes nos partem e apartam.
Há um som que rasura o teu nome.
E as palavras, agora riscadas a giz, que compõem o teu nome inteiro
São como o silêncio de duas mãos que se afastam
E que se distanciam no tempo, sobre tempo nenhum!]