o mar irrompe subtil
arrastando as correntes frias das profundezas
para libertar o amor quente em vagas sobre ilhas encantadas
repouso e silêncio
escutando os búzios que ecoam
agora que descemos a montanha de luz
dia suave e cálido
procurando essência interior
onde a lua desagua sobre o sol
inspirando alquimia de sentidos e razões
quando as flores sussuram emoções
e é palpável a energia envolvendo os corações
o fogo colorido na noite em cascata d'ouro
anuncia minha cidade de perdição
é bela a vida! é chegado o verão!
reformulação do beijo em combustão
entre raízes e sopros de emoção
buscando a razão do sonho e da ilusão
o rugido interior, a força primal, o pêlo flamejante
animal palpitante que se anima com o calor
e chora a doçura perdida em flor
fios do destino na mão
ponderando a magia, emanação fulgurante
da fantasia, da volúpia que sussurra o verão
coração de manjericão
sorrindo insone de acarinhar a vida
e se imaginar a brilhar no horizonte dos sentidos
iogurte natural e lychees perfumados
no doce sabor de acordar e saborear
puro cacao, a amargura selvagem,,,
trilhos de afecto através do meu coração
príncipe dos mares, cativado por sereias,,,
desceu fundo a ilusão sobre a realidade
precipitação e golpe profundo
num só momento atravessando toda a pele
nervo interior intacto,,, tão belo e fecundo...
palpitações
divagações, desejos, hesitações
distâncias momentâneas embarcações
a palavra e o silêncio convergem
no mais íntimo sentido do pensamento
colidindo na margem do instinto das estrelas
o que em mim sobra, fulgura e se reaviva
para imprimir gestos, suaves toques de carinho
e cuidar o tempo, o silêncio e o som em que respiro
ter a coragem de brotar do interior da terra
florescer e raiar, acreditar e prometer
voando no vento em volúpia
quando tudo se desfaz
num fogo voraz de lágrimas
a vida foge e flutua longe de sentido
correr para casa, correr sem fim
num mundo incandescente de sorrisos
guizos que ecoam entre o sonho e a vertigem
um pouco de fôlego para encantar a noite
tempo precioso e o mar tão calmo...
embalo suave na espuma do abraço...
sono profundo, dor que se arrasta...
fragilidade extrema e condescendência
amor que avive o coração e lhe instile coragem
na voragem sentimental dos elementos
quando invadem pele adentro e ardem...
sombreados arrebatamentos de cristal
tilintando e chorando na brandura do mar
adormecido entre o leite e o leito do sonho...
imparável, de tarefa em tarefa, fera em fera
mundo em mundo, momento a momento
a degladiar a expressão de ser, sentir, sofrer
momento de vertigem de amor e de mar...
mergulho e abraço
do coração da noite ao raiar do dia
o mar a crescer
nuvens e desafios
preparação, planeamento, implementação
excentricidade, comoção, sobre a realidade
caminhar só pelo mundo
percorrer, sentir, perder, falhar, chorar
na extremidade da doçura encontrar saída...
impulso colossal de um oceano
o seu dorso elevando-me, acarinhando e nutrindo...
voo, viajo, inflinjo a velocidade sobre o meu corpo quando a alma infla sua vela delicada ao vento da paisagem
chego trémulo
mergulho infindo e faiscante
nesse instante maravilhoso e ébrio de paixão
exaustão de tanta fuga e encontro
um momento de sono e novo fôlego
em devaneios pela terra encantada...
quero deslizar como um rio até ao mar
saboreando cada curva do percurso
cada impulso na corrente do meu pulso
caí, fiquei dorido mas não parti
a pedra e a terra do impacto fundem-se em mim
a minha ilusão de desolação na solidão
é imaginar respirar e cantar para amar
o espírito fulge, exalta, amplia o olhar
ao longo do rio, sobre o mar no dorso solar
todo o êxtase de meandros que estreitam
entre o sonho e a pele, na profundidade
em que os beijos me afundam...
elementos que borbulham, rasgos, lábios...
convulsões de embriaguez e naufrágios...
vigilante do coração procurando substância
no desacordo emocional resvalando em voo
a vibração que percorre o meu corpo
da noite profunda arremessado
em brilho líquido para a luz fulgente
agitação e força acordando a vontade
de desejar e ser a amplitude dos sonhos
mesmo quando soçobram nas espumas
tensão máxima sobre o corpo extenuado
que luta por erguer e nutrir seu pomo d'ouro
eis a vida renascida na árvore do navegante
cruzando o coração e rasgando as águas...
até às imagens se incendiarem no arrebol...
e a noite descer para adormecer quem chora
crepúsculo de vénus
ante a aurora encarnecida de amor
ao resvalar no sonho vivificando a solidão
escorrer como lágrima no bosque do coração
aguardando o momento da erupção da terra
entre o orvalho, a memória e a ilusão volátil
lua cheia de cor
a tinta a correr
em breve carícia
bem ao centro do coração despido em luar
minha unção, meu suave balouçar...
imaginar e sentir, fluir e navegar...
tempestade colossal, de vento e de fogo,,,
ardente, visceral, na profunda essência,,,
sobre vivência, coincidência, renovação,,,
assunção, coerência, penitência ou não...
persistir na pulsação, nos veios e nas veias
que partem do coração e se estendem
pela vida
mar e mergulho, marulho e respingo solto no ar
violência intensa, rumor de revolução,,,
reconexão com um passado perdido na bruma,,, caruma que estala nos dedos,,,
aflição, sufoco, realização sobre o tempo,,,
fulminante e áspero, o desespero cândido,,,
entre o fumo e a cinza a torre sobre a praia...
subindo e descendo degraus de melancolia...
com o coração na mão e a vida por um fio...
tensão que se despenha em fervor de lágrimas
como um cílio na noite de vento e secura...
estou a vestir a armadura e a polir o escudo
para enfrentar o último sopro de fogo
entre a bruma à entrada da floresta ígnea...
seguindo o instinto, cumprindo o trilho
e abrindo, coração e alma, ao que sinto
o fado segue-me, o fado chama-me sem fim...
uma e outra vez ergue-se a voz na noite afim
ao desengano que abana a tontura em mim...
nova lua, novo sangue, crescente na lâmina
novo ânimo, à floresta que renasce por amor
e a dor que tanto anseia, só ateia novo fogo...
quanto cresço e embalo das cinzas memória
no leito de saudade e desvelo, meu zelo velo
o que ontem fui não mais serei outra vez, cor
e o que vês, neste reflexo, espelho meu, é dor
lenço branco, manto negro, aspirando cinza
que devolva à terra de minha alma a tinta...
ansiedade de chegar e dar, prover, regenerar
agito o desespero, confronto, folhas e falhas
que me caiem, até desfalecer num sopro...
quero serenar, ser mais doce e terno, suspiro
terra que me chama, planeta d' árvore e mar
a bailar como criança nas suas vagas e asas...
coração pulsante da floresta na noite de luar
entre a ursa e cassiopeia beijo a estrela polar
fervo, excedo, no limite do sonho expludo...
rearranjo o espaço, limpo, organizo o sonho
de céu e luar, debruo camadas de proteção...
e agora que o sol quase cai, qual o mel ainda,
lentamente gotejando, para me encontrar...
resguardo do impacto, entre essências, sons
e névoa... que dissipo lentamente até soprar
noites de pesadelos sucessivas e a ansiedade
sinfónica, ululante, arrastando ondas e luar
esvoaçando entre amoras e malvasia dorida
para lavar, pintar, aparar e viver a lua cheia
os lábios escorrem o sangue da insónia feroz
o mundo muda sob as estrelas e a boca é foz
dançando no coração da floresta virgem, sol
flor tão bela desenhando o sonho sobre mim
ilusões de esgrima entre copas cintilando...
a estrela arquejando entre folhas e agulhas...
banho-me em lágrimas que escorrem lençóis
de prazer e luar, a noite suspensa num barco
correndo a floresta docemente, em pés de pã
agora a hora devora o pouco que sobra no ar
penas caiem com as folhas e a rede eleva-as,
os pés firmam sobre o tapete de galhos rubro
quando âmbar reflete tempestades passadas
tento organizar com grande contenção,,,
preâmbulos de sonhos e ligações elementais
elevar-me na humildade das raízes da terra
que em breve descerá às profundezas cruas
de penumbra e frio, entre os corpos celestes
emoção gotejando dos meus olhos d' orvalho
a água correndo tão próximo, meu rio de lua
tua candura ao remares sobre o mar de uvas
desespero no pântano, de vapores sulfúricos
o tempo dolente esperando o sonho de luar,,,
bambuliante intranquilidade de asas negras
carvalhos revolvem-me entranhas e limpam
agudamente, a alma carregada de miragens,
viagens por santuários e florestas da virgem
choques momentâneos, faíscas de fogo fátuo,
abalos súbitos reclamam serenidade e sonho
soprando gentilmente pelos seres e pela vida
floresta que liberto, voando em asas carmim
através de horizontes longínquos, sustém-se,
a esperança do reencontro, além deste sopro
vento suave do espírito no bosque iluminado
de candura e desejo, ensejo, por doce alvura,
a ventura de meu coração nas vagas se eleva
e o que leva, já só responde por si, triste fado
pedaços rasgados de minha alma, de tortura
e desespero, creio no sangue que vos escorre
e deposito no altar, cornucópia alada de mel
longe dos sonhos de vã ilusão, soluçando sal
sobre as feridas que me rasgam, vaga de fel,
teias que me cobrem a face e afagam ardor,,,
rendido ao amor espiritual, a luz, o perfume
brotando em cascatas ressoando incessantes
e o abrigo da minha alma recolhe em cachos
para levar pela noite todo o dia num só trago
murmúrios alongam o poente incandescente
enquanto a cidade sente e inscreve memória