Saco de Ouro
(Paraíso e José Caetano Erba)
Num saco de estopa com embira amarrado
Eu tenho guardado a minha paixão
Uma bota velha chapéu cor de ouro
Bainha de couro e um velho facão
Tem um par de espora, arreio e um laço
Um punhal de aço e rabo de tatu
Tenho uma guaiaca ainda perfeita
Caprichada e feita só de couro cru
Do lampião quebrado só resta o pavio
Pra lembrar o frio eu também guardei
Um pelego branco que perdeu o pelo
Apesar do zelo com que eu cuidei
Também um cachimbo de canudo longo
Quantos pernilongos com ele espantei
Um estribo esquerdo que guardei com jeito
Porque o direito na cerca eu quebrei
Uma nota fiscal já toda amarela
Da primeira sela que eu mesmo comprei
Lá em soledade na casa da cinta
Duzentos e trinta na hora paguei
Também o recibo já todo amassado
Primeiro ordenado que eu faturei
É a minha tralha num saco amarrado
Num canto encostado eu sempre guardei
Pra mim representa um belo passado
Da lida de gado que eu tanto gostei
Assim enfrentando um trabalho duro
Eu fiz o futuro sem violar a lei
O saco é a relíquia e os seus apetrechos
Não vendo e não deixo ninguém pôr a mão
Nos trancos da vida confiei no taco
E o ouro do saco é a recordação.
Maringá, 22.09.17
verde
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