E eis que na solidão da praia deserta
Caem águas do meu triste olhar,
Mas essa água que me aperta
Não é menos que as águas do mar.
Não me lembro de existir dentro de mim
Algo maior que a palavra solidão,
Algo mais seco que a amargura d'um jardim
Plantado junto aos portais do coração.
Há uma noite enleada aos desejos de cada um,
Um grito, uma metáfora de saudade,
Uma vontade de comer que é jejum
Que a trazemos desde o berço por piedade.
E o que ser para além d'um silêncio sem destino?!
Um planeta sem elipse, uma curva,
Uma pedra só, pisada no caminho,
Um punhal numa fonte de água pura!
Ricardo Maria Louro