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Ouvindo seu corpo

 
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Se seu corpo me cantasse versos
Eu sentiria o torpor de suas aspirações
As urgências de seus sonhos corrompidos
Seu corpo diria o quanto quer ser possuída
Sem domínio
Enlaçada em liberdade
Dirigida em um vôo cego

Saborearia o acorde menor do toque
Sem a dívida
Da entrega sem despojo
De estar nas mãos
E ser dona do seu ir e vir

Me diria sussurrando
Que a força que possuo
É o afago dissonante de sua delicadeza
E minhas mãos pesadas
Te mostram o quanto poderia ser vil
Mas sou doce

Em seu corpo me faria parte frágil
Da minha virilidade...


"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros

 
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Cleber
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Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 23/08/2017 14:51  Atualizado: 23/08/2017 14:51
Usuário desde: 03/09/2012
Localidade:
Mensagens: 18165
 Re: Ouvindo seu corpo
Cleber
Uau! Pretensioso e inspirado!
Adorei!
Beijos!
Janna

Enviado por Tópico
Branca
Publicado: 23/08/2017 17:15  Atualizado: 23/08/2017 17:15
Colaborador
Usuário desde: 05/05/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 3024
 Re: Ouvindo seu corpo
Uma mistura da sensibilidade com a força. Um corpo com fome e mãos que podem saciar, mesmo pesadas...
Amei o poema.

Beijo

Branca

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/09/2017 10:29  Atualizado: 01/09/2017 10:29
 Re: Ouvindo seu corpo
Um belíssimo poema encantador.

A voz doe nosso corpos grita o amor

Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 09/06/2020 09:03  Atualizado: 09/06/2020 09:30
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: Ouvindo seu corpo
O verso que, se se pudesse dizer (“Se seu corpo me cantasse versos”), seria a verdadeira expressão do contraste desejado: de uma possessão e não-possessão, de uma liberdade e não-liberdade - em simultâneo e sintonia; de uma “enlaçada liberdade” (bela expressão!)
Num “voo cego”, o “torpor das aspirações” poderia, então, materializar-se, trazendo as “urgências dos sonhos corrompidos”, o saborear do “acorde menor do toque” (gosto desta referência à música neste pas-de-deux, ainda que toda ela seja apenas adivinhada, existente somente nos domínios da imaginação do sujeito poético – ou talvez precisamente por causa disso), e o hipotético total controlo sobre si mesmo/a e o outro/a.
A força seria, assim, “afago” e força, intensidade e “delicadeza”, porque só assim o “vil” poderia coincidir com o “doce” - na exuberância selvagem do desejo existindo uma “parte frágil”.
Gosto do modo como teceste estes contrastes e os expressaste.

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 09/06/2020 09:33  Atualizado: 10/06/2020 04:38
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 2123
 Re: Ouvindo seu corpo
Efectivamente, por engano, resolvi ir à coluna de comentários por motivos menos claros para mim e dei de caras com um poema de 2017.
Um pouco esquecido, sem favoritos, tem uma sensualidade que roça o erótico.
Acho que havendo algum génio na construção ele reside aí.
De provocar num leitor mais prevertido sensações muito intensas.
Desde as "aspirações" no pescoço que leva ao arrepio, ao "possuída", ao enlace no "voo cego" fechariam os olhos? A que altitude do céu?
Na segunda estrofe, indo da "entrega" ao "toque" ao "vir" (aqui já entra o explícito que reparo).
Mas há na vileza uma certa doçura enganadora, da insinuada submissão, da dominância confusa, talvez partilhada.

Que belo engano arranjei.
Eu, que não sou nada tarado...

Obrigado Cleber