Estavam três damas mui aprumadinhas
no areal doirado, à hora do sol pôr,
nisto dá à costa, por entre as pedrinhas
um belo robalo, ai!, nosso senhor!
O sol, castamente, desviou o olhar,
nem quis ver das damas a gula e a cobiça!
E o bom do robalo, pronto a escamar,
longilíneo e ágil, tal e qual linguiça
começa a despir, em árduo ritual
o fato colante, colado, colando
(ai, que tentação, que pecado carnal!)
o olhar das damas em jejum penando.
O peixe mexia, puxava, bulia,
tentando tirar o fato molhado
e às sereias, rindo, só apetecia,
ir dar uma ajuda ao belo pescado.
Por fim o robalo livra-se da escama
- ai que rica posta eu faria do lombo!
-ai que bom filete pronto para a amanha!
-ai, sai-me da frente, meu gordo biombo!
(isto elas diziam, cada em sua vez,
já lambendo os beiços, já prontas à guerra,
o robalo fresco, já rindo das três,
muito à socapa, de costas pra terra)
Nisto as donzelas, sereias da tarde,
já puxam cabelos, entornam o caldo
já a areia voa, até o mar já arde
e eu nem vos conto qual foi o rescaldo:
foi vingança doce, acalmem-se os ânimos,
risos de bô conta, contas de bom riso,
afinal o mar, salgado e magnânimo
trará mais robalos, meninas, juízo!
“É que um croissant, um queque ou um éclair
são bem melhores que um reles robalo!”,
consolam-se as damas, fingindo não ver
uma gaivota vir e conseguir... roubá-lo!
T.T