Prosas Poéticas : 

NOVE DE AGOSTO

 
Tags:  PROSA LIGEIRA  
 
NOVE DE AGOSTO

Hoje acordei, como diz o outro, virado no diabo: Olho e vejo tudo errado!

A raiva que brota dentro de mim diante do espetáculo trágico do mundo me agita até o limite. Bato e apanho sem sentir dor, anestesiado pela adrenalina que me desritma o coração. De facto, a violência pode ser um estado de espírito...

Não posso parar. Se parar, eu morro.

Onde está o erro, então, no mundo ou em meus olhos? Sou tentado a acreditar que, mesmo sendo eu humano e fraco, o mundo tem injustiças suficientes para justificar tanto ódio. No final das contas, todas as atrocidades fazem sentido.

Como não poderia ser absurdo um mundo criado por um Deus onipotente entregue a bilhões de serzinhos egoístas que passam a vida lutando para permanecer vivos? E que o façam uns em detrimento dos outros?!

Estou cansado de esperar pelo melhor. Minha vida não dá um romance e eu não sou uma personagem conduzida por um escritor fantasma. O teatro do mundo é um palco caótico e artificial no qual indivíduos se ocupam em buscar a felicidade. Aliás, buscar a felicidade com tantos infelizes à volta parece uma ilusão coletiva mantida por mídias criadas para entreter. Nada mais.

Não serei o autor de novelas exemplares ou de historietas moralizadoras. Não escreverei sobre esperanças que eu mesmo não possuo apenas para alimentar a fé dos crentes. Não especularei sobre a natureza de Deus enquanto eu contemplo diariamente o absurdo criminoso que é a vida em sociedade. Não cabe a mim tornar digeríveis os frutos dessa terra exausta a uma multidão de famintos.

Já chega!

Betim - 2017


Ubi caritas est vera
Deus ibi est.


 
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RicardoC
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Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 09/08/2017 13:11  Atualizado: 09/08/2017 13:13
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
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Mensagens: 8560
 Re: NOVE DE AGOSTO/ Para RicardoC
Li num só fôlego. Senti-me agitada também, pela raiva respingada nas palavras que o poeta numa catarse imediata e necessária, escreve de sua observação e sensação desse tempo cruel ao qual estamos inseridos e que se desdobra em torno de todos nós.

Sei por constatação, que os que preservam seus valores ético-morais, se aflingem e sonham com uma realidade diferente, mas sabem que não podem fugir às contingências do meio hostil que prevalece nesse mundo; os alienados que passam distraídos com o próprio umbigo sequer ouvem os gemidos de quem sofre, a poucos passos de si. Os urros de uma multidão sofrida em toda parte não encontra eco no próprio homem.

Gerações se sucedem na poeira do tempo, e quase tudo no ser humano permanece igual. Entretanto, há seres humanos que não detém os passos. Trabalham anonimamente, em silêncio, por um mundo melhor. Sabem que não podem se iludir minimizando os problemas, e nem cometem o equívoco de considerar impossível lutar para uma transformação do meio em que vivem...

Perdoa-me o "textão" , poeta Ricardo, mas teu texto mexeu com meu lado filosófico/ social, de forma veemente. Não resisti, divagar por aqui.

Grande abraço, amigo!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/08/2017 09:26  Atualizado: 10/08/2017 09:26
 Re: NOVE DE AGOSTO