Escrevo cartas sem endereços definidos.
Dentro das ruas, dormem os bichos, os homens e os loucos de amar.
Não morrem desejos.
As tintas e as cores perderam a pureza.
Os muros foram pichados pelas crianças
e seus pais.
O mesmo vento gelado penetra os quartos
e as salas vazias.
O corpo pressente a fuga da alma;
pede taças de vodka, limão e gelo.
Não espero respostas. Amores
passados, quase nada sabem
da poesia e do canto.
Desembaraço as horas
na manhã e na tarde fria.
Não sou ausente em nada.
Não esqueço nomes.
Guardo nas gavetas
o sussurro dos insetos.
Soam certezas.
As cartas são atalhos de palavras
para que eu não morra amanhã.
Poemas em ondas deslizam nas águas.