MODELO POÉTICO, "CORDEL EM OITAVAS"
Nasci com a inocência
Inerente ao ser humano
Depois de alguns anos
Fui tomando consciência
Muito pouco aprendi
Mas nada me foi a esmo.
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Nos estudos devotados
Mergulhei pela ciência
Depois um tanto escolado
Me bateu uma demência
Demorei ter meu troféu
Mas engatei na carreira
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Arrumei uma namorada
Pensando crescer na vida
Mas logo eu fui chifrado
Tropecei nesta corrida
Deixei de usar chapéu
De ser corno não gostei
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Por ficar traumatizado
Dispensei uma dezena
Dizia ser contra o amor
Mas nada valia a pena
Então desnudei o véu
Da moça virei freguês
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Mais uma vez enganado
Pela mulher que amei
Mas antes de ser chifrado
Dela eu me afastei
Procurei alguém singela
E com esta me casei
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Mas o destino malvado
Logo depois eu viuvei
Voltei a ficar solteiro
A um baile experimente
Encontrei outra donzela
Que esbanjava em zelo
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Namoramos de primeira
E fomos nos apaixonando
Passado um ano e pouco
A gente estava casando
Gostosa a lua de Mel
Depois veio o desmazelo
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Mas o tempo foi passando
O mundo modificou-se
A gente foi acostumando
Com o chamado desamor
Se isto é vida moderna
Prefiro o antigo jeito
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
O amor renova o sonho
A paixão engraxa a vida
Se o velório é tristonho
A vida nos foi sofrida
Mas almejamos ao céu
A depender de São Pedro
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Para o sol ser vitalício
Habita dois hemisférios
E assim é nossa vida
Com todo o seu mistério
Em espírito somos véu
Na carne somos desejos
Meu delito mais cruel
Foi sabotar a mim mesmo
Enviado por Miguel Jacó em 02/08/2017
Código do texto: T6071731
Classificação de conteúdo: seguro
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Miguel Jacó