Eu esperava em uma fila para poder pegar meu crachá de acompanhante
em um hospital,
um pobre coitado
entrou carregado,
seu olhos arregalados
transbordavam terror e dor
e desespero,
um grupo de cristãos
cantavam: “Derrama chuva de graça,
chuva de graça, chuva de graça!
Chuva de graça!
E o homem se sentou
contorcido com a mão
sobre o estômago,
chuva de graça!
Olhos se enchiam
de lágrimas
dentro de um elevador,
chuva de graça!
E eu me enchia de ódio
rangendo os dentes
fechando os punhos,
chuva de graça!
Enquanto Ele ria
sentando em seu trono
de majestade e glória
e perfeição.
Durante a noite
li um conto
de Edgar Allan Poe
e nele o protagonista
descrevia sua amada morta
como uma deusa,
cada detalhe era escrito
com a mais pura paixão e melancolia.
A morte caminhava
por todos aqueles
corredores
e eu ouvia sua foice
seus passos e sua respiração.
Chuva de graça!
Uma divina comédia
trágica
assistida dos céus
por um ser carente,
sou Sua imagem
e semelhança.