Ó fogo amigo! Tu que me dás teu calor Cozes meu manjar E afugentas inverno No meu leito, Por que tornais bravo Nos sóis de verão? Dás luta aos homens, Fazes correr lágrimas No mar de lamentos E nunca retrocedes No teu caminhar, O vento é teu guia E a sujeira teus pés. Ó fogo, fogo amigo! As vezes penso que Não és nada mau, Se a sujeira não fosse ter às casas, Às casas não irias ter, O homem te chama E tu com tuas chamas Caminhas na sujeira dos teus pés Que o homem nunca limpou Nem soube delimitar. É pena que quando caminhas Abraças a tudo com tuas brasas E tudo levas, até a própria vida, O homem chora e não aprende, Cada verão que te atiça, Teus pés são os mesmos, Teus abraços são os mesmos Tuas brasas são as mesmas, O choro do homem é o mesmo E nunca soube limpar teus pés, Ou delimitar tua andança Pelas casas que dás teu calor Quando o inverno aperta. Ó fogo, fogo amigo! Tu és justo e bom, Injusto e mau é o homem Que não soube cuidar Dos teus pés chatos, E quando o verão Implacavelmente ataca Vais correndo por aí Que nem um louco Que o diabo soltou E o homem alimentou Com a sujeira Que lhe engole a casa.