Como de costume
mais uma noite
tive um encontro
com a fria e vazia
decepção.
Logo de manhã fomos acampar,
precisávamos subir
um longo e ingrime morro
com grama alta, insetos,
merda de vaca e algumas aranhas.
A grama alta servia como apoio
braços e pernas pinicavam.
Era eu e mais três,
montamos nosso acampamento
em uma floresta de bambus,
de hora em hora
algumas vacas se aproximavam
e nos observavam,
com um simples movimento
elas se assustavam
e corriam de encontro
à suas amigas
e contavam
tudo o que tinha visto.
A noite chegou
e junto com o sol
se foram as baterias de nossos celulares,
a escuridão assumiu o papel principal
e todas as criaturas foram soltas.
Permanecemos dentro da barraca
comendo biscoitos
e conversando,
fizemos uma fogueira
por um curto período
apenas para fazer alguns ovos cozidos.
O tato era nosso principal sentido,
a natureza brincava com a nossa audição,
sons de pegadas
e os bambus estalavam
como ossos se quebrando,
alguns gálios caiam
e o vento corria em volta da barraca,
de uma forma histérica
gritando e movendo tudo com seu desespero,
as estrelas assistiam tudo
através da copa das árvores.
Minhas costas doía,
era doloroso ficar deitado
dentro daquela barraca apertada
com o chão cheio de pedras e elevações
que trituravam todos os ossos do meu corpo.
Não tínhamos noção de tempo,
esperando o sol nascer
e o vento continuava histérico,
eu me levantava e sentava
controlando minha histeria
alongando meus ossos.
Por fim,
despertei de um doloroso sono,
o céu estava cinza
mas de pouco a pouco
aquela massa amarela foi tomando conta
o vento já não sofria tanto.
A descida foi acompanhada de muitos tombos
mas meu corpo já estava dolorido o suficiente para eu sentir alguma dor.
Um encontro
com a fria e vazia decepção
não me atinge como antes,
toda noite minha alma corre
gritando histericamente
eu apenas a escuto calado.