A vida é feita de sangue, sangue que é a própria vida em sentido. A vida é a bela que dos olhos traiu a vista, usando seus encantos mil, feitiços aspergiu, que nos arrancam daqui; desses pântanos que da minha existência são os vilões da minha vida. A vida é feita estigma, uma marca; um sinal e talvez por isso chamada sina.
Vida é estilo, um desfile de cores, gestão, ações – reações, sentimentos e tato; é o universo multicor, ou sinfonia de acordes que transforma cada elemento da terra, do céu e de todo o universo em valor absolutamente indispensável na tela do seu Criador, seu Pintor; o mais exímio de todos, porque ele não foi criado. A priori, longe da audácia de presumir de mim além da conveniência, ele nem por isso nos abandona, desprezando-nos ao limbo da insignificância. Ele que de cada ser, excetuando-se, é parte seja aonde for, como for, pois, a posição não altera o ofício, apenas tenta disfarçar a vergonha e a agonia daqueles que não se aceitam; enganados pela sua própria cobiça e pelo medo da morte; os que procuram imaginarem-se poderosos para salvaguardarem-se de suas pobres realidades.
– Ele sentou-se.
No usufruto da figuralidade para falar do Criador, tarefa que nos incumbe de incomparável responsabilidade, contudo, digo que sua vontade foi essa; fazer a criação.
Seu atributo de onipresente lhe conferindo a antecipação das coisas, nisto ele me viu cair em desgraça moral, ética, material e espiritual. Aquele elemento que era o centro da sua criação, o cerne do pensamento no qual a importância é gerada para todos os demais, o homem, e por isso à sua imagem e semelhança.
Para isso ele quis, embora contrariando sua própria natureza e vontade, contudo sem se contradizer, resignado, sofreu a dor da sua criação a tal ponto que possuído de intima compaixão, deu seu filho para restaurar pela vida entregue a morte, a ordem de cada coisa e seres, animados e inanimados, naquela tela que o Criador um dia idealizou para o seu único e próprio deleite.