O sereno gelado caia
em minha pele
enquanto pássaros se escondiam
em seus ninhos, cuidando de seus filhotes.
Meus chinelos espirravam barro
em minhas roupas
enquanto em algum lugar,
distante ou não,
pessoas choravam em um velório,
uma pobre garotinha
vestida de branco
deitado como uma boneca
em uma embalagem de madeira
e algumas flores foram deixadas em cima
junto com algumas lágrimas
e corações,
a vida prossegue como uma fábrica
de mortos-vivos,
mortos que trabalham
regados a vícios e obsessões,
e mais uma vez
na loteria do azar
sou mais um felizardo vencedor
mas não o único,
como já me foi dito:
segura a marcha ai!
Minhas mãos calejadas
de manosear a caneta
levanta a bandeira branca
que é rapidamente ignorada
e atacada.
As lágrimas planejam uma rota de fuga
e eu ando aumentando o nível de segurança,
evitando proporcionar
o espetáculo esperado
por meus demônios,
posso ouvi-los.
Próximo a meus pés
um motivo de orgulho
e eu gostaria
de irradia
autoestima,
mas o que tenho
é apenas o mesmo
olhar cansado de sempre,
me sentindo deus,
incapaz de manter a ordem
e minha alma clama: Porque me abandonastes?
E eu respondo: não sei o que fazer,
imagem e semelhança
da solidão
me restando imaginar
como seria bom
sentir bem de perto
o cheiro da
branca e macia pele,
deitado na cama
escutando a chuva
com música em meus fones
que percorre cada limbo
do meu cérebro
reciclando toda a angústia
em uma criatividade dolorosa,
um processo de todo dia
ou de até três vezes por semana,
depende de como o sol estiver
ou da quantidade armazenada
da estúpida esperança
para assim eu poder,
me decepcionar
durante o luau
enquanto uma sifônia de morcegos
está de passagem.