Ali estava ele.
Parecia vindo de outro planeta, tal era o seu jeito meio confuso de sorrir e de dizer asneiras mais ou menos apreciadas pelos turistas.
Gostava de malabaristas de olhar cabisbaixo e de vez em quando afiava alicates no sapateiro de serviço, outras vezes brincava com bolinhas de fumo saídas de um cachimbo feito de carapaça de avestruz.
Usava uns ténis de uma marca conhecida na feira de Matosinhos e o seu ar gingão ultrapassava todo o léxico das modinhas à moda do Porto.
No Bolhão, afinava o esqueleto e rabiscava um caderninho pautado da cor da fome que, aparentemente, lhe batia à porta.
Pensava nos dizeres da sua bicicleta e marchava sempre que lhe sopravam ao ouvido. Era desprovido de tino e ocupava a rede nacional no seu telemóvel top de gama.
Um dia, aproveitou-se de uma maré viva e caminhou mar adentro até ao jardim da sua magia e levava nas mãos, muita vontade de sorrir.
Nunca mais ninguém o viu, só a filha da mulher a dias o encontrou num sonho, numa noite de trovoada.
Carolina