Dormes, sobre o leito dos sonhos, qual anjo caído dos céus. Teu corpo não te pertence, entregas-te-lo há muito tempo, partilha-lo com outro homem. Mas, tuas asas são apenas e só tuas. Tua alma voa nos ventos que atravessam o corpo e seguem muito para lá de onde a vista alcança. És uma ave presa numa gaiola imaginária, amarrada a mil teias que te mantêm restringindo-te os movimentos. Por isso quando a Noite vem, despes teu corpo, soltas a alma e segues rumo a mim.
Sentado, na beira do riacho, vejo flutuar em cada folha caída, vidas que passam sem se deter, na corrente do dia-a-dia, espero pela tua vida e deixando-a passar, abrandando-lhe o passo, quero ficar presente mais um instante em ti, quero marcar-te a alma com essências de mim, deixar o meu nome escrito no teu peito, para depois te ver partir. Estranha forma de amar, momento em que te prendo em mim, como quadro eterno de um instante que paramos no tempo, uma pausa, para nos olharmos enquanto a vida passa.
Ao mar chegarás, sereia te farás, e a cada noite virás, à tona, cantar, e olhar a Noite, contemplar o céu, tentando adivinhar qual das estrelas carrega o brilho do meu olhar. E sabes, que ainda que seja apenas um sonho, estarei lá, para te acordar da realidade, quando o momento de sonhar, chegar. E quando o dia te despertar, outro corpo colado ao teu irás encontrar, mas foi comigo que dormiste, todas as noites em que me sentiste.