É a mó remoendo, é a goteira pingando,
É cisterna profunda e o balde a chorar.
São coqueiros ao vento gemendo e dobrando.
É corredeira que busca a baixada e o mar.
É o marruá desgarrado embrenhando o sertão,
São ondas sem fim que estouram ao léu.
São espinhos sem rosas, é rosa sem botão,
São nuvens de chuva escurecendo meu céu.
No compasso que o peito continua marcar,
O coração, de saudade, em si já não vive,
Remói as lembranças que insistem em ficar,
Recordando os mais belos momentos que tive.
Marisco a espreitar, entranhado em fendas,
Cada onda que chega desse mundo sem fim,
Meus olhares anseiam vislumbrar oferendas,
De pétalas que sejam que ela mande pra mim.
Assim a saudade martela e martela,
Assim eu lamento não ser como o vento,
Que agita os coqueiros no caminho dela,
Que acaricia seu corpo a cada momento.
No compasso do peito esse agito é tormento,
De um coração solitário saltitante por ela.
Testemunha presente de tanto lamento,
Oh saudade, saudade, que o tempo congela!
Faz sofrer, mas é lua a alumiar a esperança.
É rebeldia, se a luta quer meu sonho isolar,
Companheira saudade, nessa longa andança,
Clarifica o meu céu até a espera findar!