Cheguei à idade da ternura este ano. Para onde quer que vá, assaltam-me existencialismos disparatados.
Ando a ver, ou antes, a admirar, (forma gulosa de observar) a pintura Barroca. A obcessão pelo detalhe, os contraste claro-escuro, o perfeccionismo na conjugação luz/brilho e o ângulo da sombra que se forma, o dramatismo, lindo. Há fotografias que não são tão fidedignas.
Numa pintura de Frans Hals, creio chamar-se a Vendedora de Frutas, dou por mim a adorar o rigor.
E uma maçã.
Numa brincadeira com o meu primogénito, disse-lhe:
- Ou deixas a tua irmã em paz ou levas um pêro nos cornos!
Ah, as saudades dessa ameaça, mimo que trocava entres os meus amigos na flor da juventude. Era eu a ouvi-la, mas isso são rococós.
Por falar em rococó, o nosso estilo manuelino, ao nível da arquitectura também andou muito próximo da loucura...
A minha dúvida é: se podemos chamar à maçã, pêro, porque nunca chamei à pêra, maçõ?
Depois há outras questões impertinentes: porque damos o nome masculino a um fruto diverso do feminino.
Há muito tipo de pêros, o mais conhecido é a da árvore da vida. Adão mordeu aquilo (é que nem chegou ao caroço!) e lá se foi o Éden. Os vermelhitos são Starking, os amarelos são Golden, os meios são Grannysmith, os meus filhos gostam dos acidulados verdes...
As pêras, pela subtileza do doce, é das poucas frutas que gosto de comer o caroço. A outra é a banana. Tentei a manga, mas não deu.
Reparam?
Eu disse pêros mas não disse maçõs...
Isto é mesmo grave!
Se alguém tiver o regionalismo, ou o fetiche de, na vida do dia-a-dia dizer maçõs, que me diga.
Eu gosto da variedade Rocha do Oeste.
Parece que vou comer calhaus...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.