CAMONIANAS N°6
Vejo que não vês meu desassossego,
Enquanto t'entretens com novidades
Muito mais prazerosas que as havidas.
Não te afastes, porém, d'estes meus ais,
Amor que a vida fez de mim distante,
Oculto ora da vista e da lembrança.
Sê, ao contrário, atenta aos lamentos
E -- por que não? -- sensível aos louvores,
Igual eras comigo antigamente.
Com certeza, esqueceste aquele tempo
Ou ainda m'o apagaste da memória.
Mesmo diante de grandes esperanças,
Ouço senão desculpas de teus lábios!...
Em vão -- dizes -- amaste e foste amada...
Devo seguir em frente a qualquer custo,
Obscurecido pelas sombras da noite,
Interpretando só sinais dispersos:
Novas verdades para antigas dúvidas,
Admitidas embora a contragosto
Onde via fantasias fabricadas.
Sinto-me todo ausente já da vida,
Enquanto tu me esqueces pouco a pouco
Invariavelmente ávida d'amores.
Patéticos talvez sejamos todos...
Outra vez assentados na calçada
Quase no fim d'um dia sem ilusões,
Usando, todavia, de artifícios
Enquanto o sol se põe em meio aos prédios.
Betim - 07 07 2017
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.