A tarde enfeita-se do entorno ao monte,
As ondas bailam suaves no final de dia,
Em degrade escarlate veste-se o horizonte,
Tremula dourado o sol na brisa tardia,
Tépida, reflete a areia um último cintilar...
Reconfortadora, imersa no silêncio,
Não tardará a noite, amiga passageira.
O astro rei inclina-se a orar!...
A paz brilhará na estrelada cimeira:
Anúncios perpétuos d’um novo despertar.
Emerjo-me do mergulho nos frágeis ais
E submerjo na fecundidade das tardas tintas,
Em cada tom de laranja, carmim e lilás,
Derradeiros recamos da luz fugidia.
Ressuscitam-me no que há e no que havia.
Ouço sob este manto que recolhe o dia,
Tênue como a brisa redentora da tormenta,
Enredado em bordado de paz e harmonia,
- Aqui estou; Amor que depura e inocenta...
O grito da Vida ecoando desde o horizonte.
E a não menos que em tudo me refaz:
Espírito, substância, consciência e vontade;
Sonhos, propósitos, esperanças e liberdade.
Submeto-me às alvíssaras que o Amor traz
Num estar sem lembranças e sem verdades.