XXV
En la taller de la vida
As mesmas cenas de sempre. Tantas coisas para escrever, mas a mente embaralhar-se numa tal maneira que acabo me perdendo e não saindo do lugar. O forte cheiro de mato queimado. A primeira tose do dia. A filha de Professor e o seu enorme calipigio. o primeiro escarro. Relendo paginas anteriores, deixando-me feliz. "O Mundo de Sofia" é interessante, pensei que fosse chato, mas o autor norueguês é muito criativo, deixando sempre um suspense no ar. O barbeiro Costa, meu vizinho do lado tira o carro da garaagem. O teatrólogo Berg cumprimenta-me estendendo a mão para um aperto efusivo na minha. Olhou o exemplar sobre o banco:
- O Mundo de Sofia?
- Excelente.
- Muito bom - aquiesceu feliz balançando a cabeça.
Murmurios que vem da rua, ele se despede.
Ando triste e acabrunhado com os e;mails que estão bloqueados. Vou ter quer criar outro para poder trabalhar nos meus textos.
- E ai doutor? - Saúda-me da calçada o filho do finado Pedrinho passeando com seu filhote. Acredito que hoje faz quatro meses sem álcool e uns dias de tratamento de tuberculoses, para ser exato quase uns quinze dias.
Um vento gostoso refresca a minha pele depois de um bom banho e mais uma infrutifera tentativa de dar "uma barrigada" - Seu Costa, o babbeiro vizinho raspou a minha barba e o cabelo.. Um atrsite noticia, a esposa de Katchengo (filho da companheira de Seu Costa) faleceu em complicações de parto. Um ardume nos olhjos direito, como se fossem umas pontadas, uma coisa esquisista. Minha cunhada na beira do fogão fritando uns peixes. Professor veio andandado do centro, os onibus pararam. Como fossem pontadas que doem na alma. Abro e fecho os olhos nervosamente.
Até hoje não consigo entender o que realmente se passou comigo depois que fui expurgado de uma reação com uma pessoa que pensava que me amava. Uma noite antes, deitados numa cama, na intimidade de um quarto numa pousada de segunda, onde os colchões eram moles e cheios de percevejos, o ar condicionado fazia mais barulho que esfriasse. Ela abraçou-me afetivamente e com um olhar cheio de doçura que transpirava o libido das paixões, declarou-me que não me trocaria por outro homem nenhum. Eu acreditei piamente na redenção de todos os meus pecados e me senti o sujeito mais feliz do mundo. Nem bem passara vinte e quatro horas, no mesmo local, numa praça mal iluminada, onde por mais de três anos nos encontramos furtivamente todos os finais de semanas para trocarmos juras de amor eterno, onde ao longe nas calçadas da Catedral da Sé, as putas de meia-idade e travestis em trajes mínimos disputavam aos tapas e aos gritos os seus raros clientes. Onde uma lua cheia escondia-se por trás das folhas das imponentes palmeiras imperiais e a estátua de bronze enegrecida pela patina e pigmentada pelas fezes dos passarinhos vigiava-nos silenciosamente, enquanto guardas salientes rondava-nos com suas faces sacanas. Depois de varias escaramuças inacreditáveis, tais como ela entrando e saindo de um restaurante, com sua bolsa e um capacete na mão numa rua transversal, onde as vezes fazíamos nossas refeições, quando a segui acordando de um sonho encabuloso, a mesma subia na garupa de uma moto e descia ladeira da Rua 28 de julho. Um americano perdido indagava-me qualquer coisa num inglês perfeito e eu respondendo num espanhol nervoso e corrido. Atinei e dirigir-me par o mesmo lugar que me havia ordenado minutos atrás quando eu estava fumando um baseado no prédio de uma amigo na Rua da Estrela. Depois de todos esses desencontros, finalmente veio a decepção, um desdobro sem pé nem cabeça e assim deu por encerrado um romance secreto que durou quase três anos. Foram três meses de puro sofrimento puro que quase enlouqueci. Fiquei quase como um autômato, desanimado e apático. Trancava-me no fundo da oficina, enchia a cara de diamba e me danava a chorar que nem um bezerro desmamado.
Eu estava deitado na cama, na solidão do meu quarto de tuberculoso, lendo as ultimas paginas do interessante livro do escritor norueguês Jostein Gaarder, o não menos famosos "O Mundo de Sofia", quando a minha cunhada entrou e perguntou-me em voz baixa de pé:
- Quanto é mesmo?
- Quinze reais - Respondi levantando-me bruscamente, marcando na ponta da pagina e deixando o livro sobre o colchão.
A minha cunhada vestida num vestido simples com estampa florida, que fazia-lhe lembrar-me um antigo, interessante e efêmero caso de amor, estendi-lhe a mão e entregou-me duas cédulas estalando de novas; uma de dez e a outra de cinco reais. Virou a costa, ia saindo quando murmurou entre os dentes "Não tem nenhuma 'pontinha' para mim". Ela virou-se de dei-lhe uma cédula de dois reais. Agil como um gato, não pestanejei, mudei de roupa, fui ao quarto do casal, na cômoda deles apanhei um frasco de uma colonia barato e passei no corpo. Antes que ela reclamasse alguma coisa e sai. - Vou logo pagar o meu vizinho barbeiro Costa - Pensei ao sair no terraço. E assim fiz. Em passos rápidos deixei o meu vizinho surpreso e contente, cobrou-me apenas dez reais. Voltei no mesmo rastro, não encontrei mas o seu Apolônio. Apenas Collorzinho e o seu novo locatário conversando na ponta da calçada, cumprimentei-lhes e seguir em frente. Em frente ao bar de Dona Jurema, uma casal bebia uma cerveja, na outra mesa próxima, um pretinho desconhecido brincava no celular, enquanto que por trás do balcão no meio da parede, o sorriso meigo e inocente da jovem simpática morena Nanáia deixando a mostra as duas covinhas nos cantos de seus finos lábios. Na Praça do Viva, Alan Black abraçava outro bêbado sentado no banco, esturguei os passos, atravessei a estreita pista da avenida e entrei no portão lateral mercado de Seu Biné. As barracas fechadas, dirigi-me ao Seu Raposo, onde comprei um iogurte Activa para combater a minha prisão de ventre. retornei aos meus aposentos e conclui a leitura do "Mundo de Sofia" - Marquei um bilhete da Quina e com certeza jogaria - enquanto os cheques imaginários não chegam.
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