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Tuberculose -III

 
XXII
Seu Moreira, o senhor galante passou apenas vinte dias na companhia de seu love. Não foi falta de avisos, todos foram unânimes em alerta-lo para a difícil personalidade de sua companheira. Sentiu na pele e viu que não valia a apena, passar por que estava passando, principalmente pela falta de liberdade. Ela o cerceava de todas aos lados, deixando-o preso em casa ou quando mandava-o fazer fazer qualquer favor na rua, cuspia no chão, marcando-lhe o tempo para não demorara antes do cuspir secar. Encontramo-nos casualmente na Praça do Bacurizeiro ainda pouco, ficamos felizes eu nos rever, havia quase um mês que não nos víamos e conversamos. Sentamos no banco de cimento debaixo de uma frondosa Barricudeira.
Uma típica noite de domingo. As brigas de minha cunhada com as meninas, a mesma historia de sempre, o mesmo filme repetido varias vezes com poucas variantes. Chateado até a alma, tudo dando errado nesses últimos dias de minha miserável existência - doença, e etc, etc -Pela e osso. Dormi até o começo da noite de tão contrariado. terminei "Um Dia na Vida de Ivan Denessovitch" de Soljenitsin.
XXIII
Uma manhã de segunda feira, a primeira do oitavo mês do ano domini do senhor de 2014
En la taller de la vida
Ouvindo o grande teatrólogo Mr. Berg contando a luta de dirigi um espetáculo de grande envergadura do teatro local "A Via-sacra" realizado pelo grupo Grita, todos os anos no bairro do Anjo Da Guarda. Um verdadeira odisseia, os embates com o fundador Claudio Silva, austero e egocêntrico que não aceita a opinião dos outros. O Professor Jailton e seus dramas no ensino particular, ficou de trazer-me um dicionário de sinônimos. Uma manhã simplória, um antigo cliente parou o veiculo e chamou-me, perguntando-,e sobre quantos dias podia entregar-lhe um portão, com o coração partido tive que explicar-lhe que não estou trabalhando, assim como o senhor que passou-me em frente com Collorzinho para perguntar o preço de umas retrancas.
- Vocês são vão-me ouvir quando eu bater em vocês de verdade -repreende minha cunhada para asa 'danadinhas' que almoçam sentadas a mesa em companhia do chefe do clãs numa cabeceira de costa para a porta do quintal e o genro na outra. Ambos nus da cintura para cima, uma fato que desagradaria meu velho Pai Bamba que jamais admitiria alguém sentar-se na mesa sem camisa. Eu particularmente também não aprovo, mas o chefe do Clã adora sair sem camisa, coisa de gente sem educação - Mas em se tratando do Patriarca tudo é possível para desagradar a memória do saudoso venerável mestre Bamba, um dos homens mais digno que conheci.
- Comida boa é galinha! - Diz o mestre Antenor debruçado sobre seu prato - Tem agua em cima da mesas ai, Clara? - Pergunta em pé com o copo na mão. O Patriarca recolhido aos seus aposentos e deitado na cama.
- Ei ai meninas, essa farinha não é para comer assim, só de um vez - Adverte minha cunhada colérica - A cachorra não quer comer - Diz preocupada - Não quer mais? - Indagou para Clarinha.
- Gente, até bom, obrigado e até mais - esqueci-me realmente como é este dizeres que Antenor repete todos os dias depois de almoçara e jantar, quando se despede indo pra casa.
Nesses últimos dias não estou muito legal, escrevo pouco esta caderno, também levando uma vida insípida como a minha, a mesma rotina e o mesmo cotidiano, nenhuma boa, mas boa mesmas são as novidades - as lamurias de sempre, minha cunhada braba, a pachorra de Larissa em atender os pedidos da mãe, fazendo-se de esquecida. A mãe pediu-lhe para levar a cachorra para o terraço fazer suas necessidades - a impaciência de Larissa em espera-la. Para embaraçar mais, a minha já complicada vida, o e;mail recente também deu problema.
Uma volta na lixeira do Mercado apara apanhar umas caixas de papelão - desta vez tive sorte em concentrara umas pequenas. Já pensou se dentro delas encontro um bolo de dinheiro - Santo Deus!
Começo da noite no quarto do tuberculoso. A penumbra invade sutilmente o ambiente, assim com a catarata esta fazendo com meu olho bom, o da direita. Lendo deitado na esparsa luz que aos poucos vais escurecendo, lia um livro que seu jovem amigo, o futuro psicólogo Junior emprestou-me "O Mundo de Sofia" que fui apanhar no seu apartamento no terceiro andar do prédio de Seu Zé da Sapataria, que ocupa toda a parte de do térreo. Pela manhã, tive uns escarros meios vermelhos que deixou-me preocupado. Tossi. Agora sentado a beira do colchão, o barulho clássico do ferrolho da cancela do terraço, anunciando a chegada de Seu Pietro, que entra sutilmente sem fazer muito alarde. Na cozinha, minha cunhada preparava o jantara do companheiro para depois servi-lo na mesa.
- Como foi o serviço hoje lá Seu Pietro?Indagou o Patriarca ao mesmo tempo que a Matriarca chamava-lhe a atenção para um problema. Um dialogo em voz baixa. Larissa absorta com os fones nos ouvidos viaja na internet com a cultura inútil. Há três dias que não defeco legal, vou e me sento no sanitário,antes porém apanho um exemplar da Veja que guardo sobre a caixa de descarga e ponho a folheá-la, provavelmente já li e reli varias vezes espremo-me, que o ânus arde, mais nada desce, as vezes uns carocinhos. Ao terminar, depois de dar a descarga e urinar, fico em frente ao espelho contemplando o meu esquelético corpo, apalpado o que me resta da bunda, conto as costelas e exprimo algumas palavras, enquanto cofia a espessa braba que me dar a aparência de um velho Shadus ou um mendigo, sorrio para mim mesmo, deixando a mostra os dentes amarelados, rodeados de tártaros e outros maléficos e filosófico "Che vita fudida questa mia" - doente, falido sem esperança, sem o seu ultimo livro, sem a visita do seu único filho, tosse para expelir a secreção que acumula-se e irrita-o na garganta. O frigir da carne na frigideira. Coço a cabeça, fecho os meus olhos e passo a mão angustiada no rosto. Seu Pietro muda de roupa. olha-se no espelho.retoca o cabelo e ajeita a camisa.
- Para onde tu vai? - Inquiriu a curiosa da Clarinha.
Levanto-me para acender a luz, fecho a banda da janela, senti-me cansado e esquisito. deito-me na cama no sentido contrario, dobro o travesseiro e coloco debaixo da nuca e vou ler "O Mundo de Sophia".
- Poxa! - Exclama a cunhada ao ser atingida pelo óleo quente que expeliu da frigideira.
(extraido do livro Tuberculose" a venda no site da Clube de livros por r$ 40,00)

 
Autor
r.n.rodrigues
 
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