Textos : 

Tuberculose ~II

 
XXI

Uma grande nuvem negra impede os primeiros raios solares no horizonte. O vizinho do quintal corta alguma coisa. Os velhos sucessos de Roberto Carlos, Tia Flor chegando:
- Ei, Raimundo! - Diz ao abrir a cancela.
O cheiro de fritura, os raios solares incide sobre a fotografia do mestre pregada na parede colado do outro. Os dois Dostoiévski e Miller. Tia Flor como sempre contando as novidades, enquanto bebe um copo de café. O frio ameno de todas asa manhãs. Ontem a noite, encontrei com Dona Rita |Marley, a companheira de Seu Jailton Pé-de-Pato que continua internado numa maca do corredor do Socorrão I. Fez duas cirurgias para drenar as secreções dos ferimentos no abdome. A situação dele não é muito boa.
- A que hora começa o serviço lá, Seu Pietro? - Pergunta o pai, que chegou ainda pouco de sua caminhada matinal com a sacola de pão na mão.
- Daqui a pouco, as sete e meia - Responde enquanto carrega a bomba para o terraço.
- E o salário? - O patriarca é curioso fez a mesma pergunta para Danielzinho, que esta trabalhando como motorista para o cunhado e esteve aqui ontem rapidamente pela manhã.
Tia Flor despede-se de minha cunhada no terraço.
"-Bom dia, seis e trinta e nove em Belém do Pará" - anuncia o locutor da Rádio Clube do Pará.
Os filhotes no ninho dão os primeiros pios. Minha cunhada desliga a bomba, a agua ainda não chegou, somente a tarde. - Notas da Cela de uma Penitenciaria Federal - por enquanto é o titulo provisório, se é que eu termine o que comecei. O meu dia começa, ingerindo as quatro pílulas. Dobrando o lençol e o pendurando no varal. Entro naquela euforia inicial e de repente esfrio com um estrela anã, então relaxo os escritos. O que me atrasa é essa preguiça e a inconstância.
Seu Pietro arrumou-se conforme o seu mandamento de elegância, preparava-se para encarar o seu segundo dia de trabalho no comitê de um candidato a governador. A minha barriga se contorce de fome, espero a poeira baixar para beber p café. O Patriarca preocupado procura que hora o factotum vai chegar e em seguida telefona para o deposito de gás. Seu Pietro sempre de bom humor despede-se.
- Raimundo vem tomar o teu café - Chama-me minha cunhada - a gente quando tá doente tem que se alimentar na hora certa - resmunga da soleira da porta do quarto.
Tento colocar em ordem os meus velhos companheiros amontoados sobre esta escrivaninha que Dona Van comprou para mim no Moveis Usados, assim que mudamos para cá. Um grande valor sentimental. Gosto de manuseá-los, de sentir o cheiro, a presença deles - alinho os capa-duras, iniciando com o volumoso "Ana Karenina" de Tolstoi em pé ao lado de "Sodoma e Gomorra" de Proust, "Comédia Humana" de Balzac. Minha cunhada escoltou a pequena Larissa até a parada de ônibus, esta elegante numa saia longa. Meus livros , meus tesouros - eternos companheiro, na alegria ou na tristeza. O entregador de gás, um moreno baixo e fardado desculpa-se pela demora, apanha o botijão na moto adaptada e entra. Os cães que estão no quintal latem, vai para a cozinha e rapidamente faz a troca.
- Obrigado, patrão! - Agradece e depois professor assina o recibo. - Um bom final de semana. - Liga o motor e a caixa de som com a propaganda do Deposito.
Livros, livros - os amores de minha vida - os contemplo com os olhos felizes. Ouvindo o grande Mozart na SKY. Na rua lateral do Mercado, a azafama dos ajudantes de pedreiros atravessando-a com os baldes de massa, uma betoneira alugada a cento e cinquenta reais a hora, segundo Cabeludo que administra o andamento da obra. Na Praça do Bacurizeiro, os mesmos de sempre. Alan très dias no ar, perturbando um e outro, procurando confusão com diz a rapaziada 'louco para apanhar'. Seu João da Cruz foi embora, assim que viu Troira se aproximar com a moto.
- Oh! Meu guru! _ saudou-me o neto de Dona Eusebia, um negão varapau, manhoso todo com passagem pela baixada fluminense, São João de Meriti e Complexo do Alemão. Atualmente residindo ou melhor dando um tempo no bairro da Liberdade com uma nêga que tem uma filha trabalha numa galeteria onde assa trinta frangos por dia e ganha cento e cinquenta reais por semana, mas ultimamente vivem se desentendendo-se, então aproveita e vem para Vila. O pai, sargento-bombeiro-militar reformado, bom de papo, capoeirista.
Matraquinha, o primeiro a se recolher com seu passinho miúdo e trôpego, a língua engrolada pelo álcool.

Debruçado no para peito da janela, sinto-me como um prisioneiro naqueles sanatórios americanos tão estereotipados nos filmes. A bomba-d'agua funcionando enchendo os baldes. As meninas, as duas pequeninas brincando na sala e assistindo "Bob Esponja". O Patriarca no computador, a Matriarca atarefada nos eus afazeres.... como já sabia não escrevi nada, aquela apatia de sempre. Forço-me a tossir para expelir o catarro que fica acumulado na garganta.
- Vai logo tomar banho - Ordena minha cunhada braba como ela só, fica brigando com as pequeninas e descarrega toda sua fúria incontida gritando par intimida-las, mas as mesmas inocentemente já conhecem o seu comportamento e sabe como encara-la. O Patriarca beneplácito traz a sua nova amiguinha, a sobrinha de Pietro que acabou de chegar e o irmão menor. Eles serão os futuros apaniguados, minha alegre cunhada devido ao uns doses de vinho polemiza com Pietro.
- Não mexe com nadinha - Diz para a mexilhona da Ana Julia, o Patriarca bonzinho foi deixar o irmão menor dela. Ele se zanga com Larissa que chegou e não cumprimentou a menina.
- Quem decide sou eu - esbraveja minha cunhada.
(extraido livro Tuberculose - a venda no site do Clube de autores)

 
Autor
r.n.rodrigues
 
Texto
Data
Leituras
417
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.